segunda-feira, 27 de abril de 2009

Garapa amarga


Por: João Daniel Donadeli


"Denunciei a fome como flagelo fabricado pelos homens, contra outros homens".( Josué de Castro)

Ao escrever, em 1946, o renomado livro “Geografia da Fome”Josué de Castro, afirmava que a fome não era um problema natural, isto é, não dependia nem era resultado dos fatos da natureza, ao contrário, era fruto da ação humana, ou melhor da falta da ação humana para com seus semelhantes, a centralização do capital na mão de poucos e a fome na boca de muitos.

Os tempos são outros, mas a má distribuição de renda e o descaso ainda são o mesmo. Em pleno século XXI as pessoas ainda morrem de fome e não há uma perspectiva de melhora.

O premiado diretor brasileiro José Padilha, ( Tropa de elite) de volta ao documentário com seu novo filme ”Garapa” teve a intenção de mostrar a fome em seu estado natural, retratando o cotidiano de três famílias do nordeste brasileiro, que sofrem com a fome e a desnutrição por uma alimentação pobre em nutrientes, como a garapa (neste caso, água com açúcar) oferecida as crianças para saciar a fome congênita.

As imagens que se vê em Garapa são extremamente desconcertantes, que causam um estranhamento no espectador, por algum momento pode parecer que sejam sensacionalistas ao extremo, e, no entanto uma reflexão pode nos trazer um entendimento mais profundo sobre a intencionalidade de cada cena. A fotografia em preto e branco causa um distanciamento, como se aquela realidade fosse algo passado, distante dessa realidade presente.

O recorte proposto entre as três famílias nordestinas não particularizam ou regionalizam o filme, pois a fome está em todos os lugares inclusive nas grandes capitais. Fazendo uso do cinema direto com poucas interferências visíveis, Padilha busca trazer o dia a dia dessas famílias, com seus conflitos e reflexos da miséria, personagens marcantes que acentuam a intencionalidade de colocar o espectador dentro do filme vivenciando cada situação.

Um “filme feio e muito triste”, um grito desesperado por socorro, que choca o espectador que se vê impotente, engessado diante da poltrona enquanto imagens da violência da fome se projetam na tela do cinema. Imagens em preto e branco para serem suportadas, um realismo critico até um tanto exacerbado, mas com base no artigo “a estética da fome” de Glauber Rocha, podemos discernir melhor, “...Nossa maior miséria é que esta fome, sendo sentida, não é compreendida.”

Garapa é um filme verdade, é um soco na boca do estomago do comodismo e uma resposta ao falso assistencialismo, é um olhar aos extremos que fazem parte do todo, é um filme que faz o público pensar e refletir a cada grão de pipoca consumido na sala escura, um filme manifesto, uma critica a sociedade consumista e fútil que nunca a sentiu fome, um filme que leva um tempo para ser processado, mas que todos deveriam ver, refletir, indagar e debater.

Garapa, documentário, Brasil-RJ 110mim, P&B, 35mm, 2008
Direção: José Padilha.
Roteiro: Felipe Lacerda e José Padilha

quarta-feira, 1 de abril de 2009

DOCTV CPLP


A partir da próxima segunda-feira, 6 de abril, até o dia 21 de maio, estarão abertas as inscrições para o Concurso de Seleção de Projetos de Documentário do I Programa de Fomento à Produção e Teledifusão de Documentário dos Países de Língua Portuguesa - DOCTV CPLP. Mais informações e inscrições no site do Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA), de Portugal