domingo, 1 de novembro de 2009

DOCTV - Desenho do Corpo



“Toda beleza do mundo é reflexo de uma beleza fonte.”

A questão da estética do corpo é algo que se discute desde a Grécia antiga, os padrões de beleza e culto ao corpo que definem um paradigma são construídos e mutados ao longo de décadas sob influencias culturais, artísticas e filosóficas, que são absorvidos pela sociedade e massificados por estereótipos que definem o que é belo e aceitável como padrão estético.

Na sociedade contemporânea o mercado capitalista se apropria desses modelos pré-concebidos e impõe a necessidade de atendermos rigorosamente o apelo dos padrões estéticos vigentes.

Com esse rigor estético o corpo feminino é o que mais sofre para manter esse paradigma que é refletido nas artes plásticas, no cinema, na moda, nas ruas e na concepção de beleza da sociedade.

Esse é o tema que “Desenho do Corpo” se propõe a discutir a partir de personagens que ganham a vida como modelos vivos, bailarinas e teóricos da arte, revelando a construção do ideal de beleza do corpo feminino na contemporaneidade, tendo como referência os costumes relacionados ao consumismo.

O filme lança mão de uma proposta de documentário clássico com depoimentos posados e imagens que ilustram as falas e desenvolvem o ritmo do filme.

A fotografia, a dança e as artes plásticas são o pano de fundo pra discutir a construção da imagem perfeita do corpo feminino por serem os principais disseminadores e perpetuadores desse ideal de corpo jovem e agressivamente definido.

Por outro lado, a modelo vivo Vera, uma senhora de sessenta e sete anos, que posa para fotógrafos e estudantes de arte desde a juventude é o contraponto do filme por não corresponder mais aos apelos estéticos vigentes, mas que abre uma grande reflexão sobre a verdadeira concepção de beleza, um corpo castigado pelo tempo não mais corresponde ao paradigma de beleza, porém, a beleza não está no corpo e sim na relação que se estabelece entre o sujeito e o objeto, por isso quando olhamos um desenho desse mesmo corpo podemos dizer que é belo, pela integridade e perfeição.

“Desenho do corpo” faz parte da carteira especial DOCTV SP III , Programa de Fomento à Produção e Teledifusão do Documentário Brasileiro realizado através da articulação da Fundação Padre Anchieta – TV Cultura junto ao SESCTV e à Secretaria de Estado da Cultura, com o apoio institucional da Associação Brasileira de Documentaristas e Curta-metragistas – ABD/SP.

Ficha Técnica
Duração: 52 minutos
Autora e Diretora: Cristiane Arenas
Co-produção: Cristiane Arenas | Contraponto Produções | Fundação Padre Anchieta – TV Cultura

DOCTV - Engarrafados



Engarrafados é um documentário que revela as relações estabelecidas entre pessoas desconhecidas que trafegam por diferentes pontos da cidade de São Paulo, abordo de um taxi, desvelando paisagens abstratas e obscurecidas pelo cotidiano, fazendo emergir a personalidade de cada personagem que passa pelo taxi.

A partir de um taxi, metáfora simbólica que circula dia e noite pelas ruas da metrópole, seis distintos personagens ocupam o veiculo e trocam palavras com o motorista em regiões diversas sob as intempéries do tempo e o caos urbano, esse papo informal e fragmentado, aos poucos vai revelando a personalidade de cada um dos passageiros e conduzindo o espectador a vivenciar essa viagem.

Para cada personagem que é apresentado há uma nova proposta audiovisual buscando relacionar as diferentes regiões por onde o taxi circula e reforçando as diferenças de personalidades das personagens.

Construído de maneira experimental com paisagens abstratas em movimento, mas que são facilmente reconhecidas e interligadas as falas das personagens, o documentário se desenvolve pelas relações estabelecidas entre passageiro e motorista, pessoas desconhecidas que ocupam o mesmo espaço e trocam vivências em meio a uma metrópole onde a individualidade é o cartão de visita.

Por mais que o filme se passe inteiramente dentro de um veiculo trafegando pelo caos urbano, o fio condutor está nas relações estabelecidas informalmente entre os personagens que partem de suas singularidades para a universalidade das relações humanas.

Ficha Técnica
Duração: 52 minutos
Autora e Diretora: Luiza Fagá
Co-produção: Luiza Fagá | Tapiri Cinematográfica | Fundação Padre Anchieta – TV Cultura

DOCTV - Depois rola o Mocotó



O imaginário coletivo da laje se transmite a partir da observação de cada um, símbolo de status na periferia, aquele que possui um espaço livre para atividades diversas como soltar pipas, estender a roupa lavada, tomar sol para manter o bronzeado ou mesmo um churrasco no final de semana com os amigos, é um privilegiado.

Com a superpopulação e a falta de espaços livres na periferia, a laje se torna um símbolo de conquista para os moradores que almejam esse “status social” que na maioria das vezes é conquistado com a ajuda de amigos, parentes e vizinhos que no dia do “ritual” para se bater a laje estão sempre presentes, uns porque realmente querem ajudar outros pela recompensa do final da jornada de trabalho árduo, que pode ser desde o mocotó, feijoada ou um churrasco regado a cerveja gelada.

A complexidade desse “ritual” é mostrada no documentário “Depois rola o mocotó” que em seu título já sugere que depois do trabalho, rola o mocotó. Dirigido por Débora Herszenhut e Jefferson Oliveira (DON) o documentário acompanha duas famílias na conquista de suas lajes sem abrir mão de todo o entorno simbólico e social que a laje representa para a periferia.
A laje tem seus personagens inseparáveis, como a garota da laje, o pipeiro, o olheiro do tráfico, que pontuam e acrescentam ao filme as vivencias cotidianas das comunidades periféricas brasileiras, mesmo que o filme tenha sido feito no complexo do alemão no Rio de Janeiro, pois em qualquer lugar que a laje esteja sua representação é a mesma.
Depois rola o mocotó revela desde o inicio do dia os preparativos para se cumprir o ritual de encher a laje, as dificuldades para subir nas costas o material que será usado para fazer o concreto, o pouco espaço para mexer a massa, e os preparativos para o esperado Mocotó que fica por conta das mulheres enquanto os homens deixam a laje pronta.

Diferente do que se possa esperar de um documentário que adentra os morros cariocas, “Depois rola o mocotó” toca na questão do trafico de drogas muito sutilmente para não perder o foco, apenas revelando o uso da laje como ponto privilegiado de observação dos olheiros, sem que com isso crie uma visão estereotipada da periferia.

A trilha sonora que foi assinada pelo coletivo Digitaldubs, é um ponto forte do documentário, a música está inteiramente ligada ao filme gerando empolgação e expectativa no decorrer das imagens, é uma trilha sonora que “fala”, uma trilha sonora que parece pertencer as imagens.
Lançando mão do documentário observacional, não há entrevistas posadas ao estilo clássico, apenas depoimentos das personagens que surgem no decorrer das imagens sem que falem diretamente para a câmera, mas que dão conta de explicar o filme pela riqueza de imagens e pela montagem proposta.


Assim “Depois rola o mocotó” é um documentário que revela a dialética da periferia a partir da laje, revelando o cotidiano e as diferentes formas de socialização das comunidades periféricas que sofrem mudanças geográficas a cada final de semana com a construção de uma nova casa ou o enchimento de uma nova laje.

Ficha Técnica
Duração: 52 minutos
Autora: Débora Herszenhut
Diretores: Débora Herszenhut e Jefferson Oliveira (Dom)
Co-produção: Débora Herszenhut | Urca Filmes | Empresa Brasil de Comunicação – TV Brasil | ABEPEC - Associação Brasileira de Emissoras Públicas, Educativas e Culturais