quarta-feira, 17 de junho de 2009

DOC TV "O caminho do meio"


Por: João Daniel Donadeli

Desde que o Proálcool, Programa Nacional do Álcool, foi instituído, em 1975, pelo governo do presidente Ernesto Geisel, por causa da crise internacional do petróleo, cresceu exponencialmente a produção de cana-de-açúcar e o número de usinas.

O aumento da demanda de mão-de-obra foi uma decorrência natural, e trabalhadores começaram a migrar de seus Estados de origem para o corte de cana no interior de São Paulo, região de amplo cultivo.

A maioria dos trabalhadores estava entre 20 e 50 anos e vinha do norte de Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí, regiões com alto índice de desemprego.

A modernização do maquinário de colheita e as novas exigências para a produção dos biocombustíveis, como não queimar a cana, que é necessário para a colheita manual, causou déficit de trabalho para os migrantes, que tradicionalmente eram absorvidos pela atividade.

O Caminho do Meio, um dos selecionados pela quarta edição do DOCTV, programa de incentivo à produção de documentários, vinculado ao Ministério da Cultura, busca revelar esse processo de migração, nesse novo contexto.

Para isso, o diretor André Amparo faz um recorte geográfico, elegendo o Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, região de onde partem muitos dos migrantes da cana, e toma como base o depoimento dos trabalhadores e de seus familiares, que ficam à espera.

O documentário evita o tom de denúncia e contempla a análise que os próprios trabalhadores fazem sobre o processo de migração, atrelado, muitas vezes, à melhoria da condição financeira. Não são poucos os que voltam do corte da cana com recursos para investir na compra de casas, automóveis e motocicletas. O filme também faz esse movimento de partir e regressar.

Logo em sua abertura, somos surpreendidos pelas imagens da queimada da cana, que é espetacular; entretanto já fica explícita a impossibilidade de manter esse processo arcaico, que agride toda e qualquer proposta ecológica.

A cultura local, as festividades e a religiosidade dos populares dão ao filme uma atmosfera sertaneja de poucos recursos, mas de muita alegria.

A proposta estética adotada pelo diretor está vinculada, também, à busca de imagens contemplativas, que enriquecem o filme e conduzem o espectador a momentos de introspecção, entre um depoimento e outro.

Exemplos de imagens assim são a dos insetos voando ao redor de uma lâmpada, um show de luz e movimento; e a do garoto que tenta segurar o vento, espontaneidade sem igual.

Depois da partida dos trabalhadores, os que ficam pouco sabem desse local de onde vem o dinheiro que movimenta os vilarejos. As imagens captadas pelos trabalhadores, com câmeras e instruções dadas pelo diretor, revelam um pouco desse lugar imaginário e desconhecido.

Num momento em que se discute sustentabilidade e se busca um meio para frear a devastação do planeta, O Caminho do Meio propõe um novo olhar sobre os problemas socioambientais do agronegócio, levando em conta a opinião de grandes especialistas no assunto, os trabalhadores da lavoura.

O Caminho do Meio (Brasil, 52 min.)
Direção e roteiro: André Amparo


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