quinta-feira, 25 de junho de 2009

Paragem do Tempo - DOCTV IV


Por: João Daniel Donadeli


As Minas do Camaquã, distrito mineiro do Rio Grande do Sul que já se constituiu na principal reserva de cobre conhecida do Sul do Brasil, é hoje um amontoado de ferragens e de ambientes desolados.

A extração do minério ali, que se deu por mais de cem anos, encerrou as atividades por “exaustão” das jazidas, provocando desarticulação econômica na região que tinha as minas como sua principal fonte de renda.

O documentário Paragem do Tempo, de Carolina Berger, selecionado na quarta edição do DOCTV, programa federal de incentivo à produção de documentários, se propõe a retratar, hoje, de forma poética e filosófica, o que foram os tempos áureos da atividade extrativista.

Sem recorrer a materiais historiográficos, Paragem do Tempo lança mão de apenas alguns personagens que ainda resistem ao tempo no vilarejo abandonado, para pontuar a história. Como sugere o próprio título, não é o retrato dos personagens a intenção primeira da diretora Carolina Berger e sim a percepção da estagnação do tempo, que se configura num personagem abstrato a nós sugerido pelas imagens e ritmo do filme.

O tempo, nesse documentário, é algo que transcende o âmbito das imagens e se revela paradoxalmente num antifluxo, para dar margem à parada do tempo, como se fôssemos induzidos a perceber espaço e tempo num único plano metafísico e atemporal.

As imagens captadas no interior das residências, os utensílios, o carro, a ausência de modernidade, tudo corrobora com a paragem do tempo e sustenta o argumento de que houve um lugar próspero em tempos idos.

Essa proposta de abrir mão do discurso verbal e da interação com os personagens, valendo-se de uma proposta audiovisual ensaística, convida o espectador a vivenciar o cotidiano dos moradores desse vilarejo adormecido no tempo.

Sons e ruídos das minas, como os constantes pingos d’água, são usados de forma autônoma e fragmentada, sem a preocupação com a sincronia; as poucas falas dos personagens são usadas quase como uma narração over, afastando-se de propostas mais convencionais.

Imagens em planos longos e fixos, bem fotografados pelo premiado diretor de fotografia Sylvestre Campe, são um dos pontos fortes do filme, tanto pela beleza das paisagens locais quanto pela sensibilidade dos enquadramentos.

Se, por um lado, Paragem do Tempo não corresponde a uma temática de relevância atual e de urgência, por outro lado, cumpre seu papel estético-cinematográfico com criatividade e profissionalismo.

Paragem do Tempo (Brasil, 52 min.)
Direção e roteiro: Carolina Berger


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