domingo, 1 de novembro de 2009

DOCTV - Depois rola o Mocotó



O imaginário coletivo da laje se transmite a partir da observação de cada um, símbolo de status na periferia, aquele que possui um espaço livre para atividades diversas como soltar pipas, estender a roupa lavada, tomar sol para manter o bronzeado ou mesmo um churrasco no final de semana com os amigos, é um privilegiado.

Com a superpopulação e a falta de espaços livres na periferia, a laje se torna um símbolo de conquista para os moradores que almejam esse “status social” que na maioria das vezes é conquistado com a ajuda de amigos, parentes e vizinhos que no dia do “ritual” para se bater a laje estão sempre presentes, uns porque realmente querem ajudar outros pela recompensa do final da jornada de trabalho árduo, que pode ser desde o mocotó, feijoada ou um churrasco regado a cerveja gelada.

A complexidade desse “ritual” é mostrada no documentário “Depois rola o mocotó” que em seu título já sugere que depois do trabalho, rola o mocotó. Dirigido por Débora Herszenhut e Jefferson Oliveira (DON) o documentário acompanha duas famílias na conquista de suas lajes sem abrir mão de todo o entorno simbólico e social que a laje representa para a periferia.
A laje tem seus personagens inseparáveis, como a garota da laje, o pipeiro, o olheiro do tráfico, que pontuam e acrescentam ao filme as vivencias cotidianas das comunidades periféricas brasileiras, mesmo que o filme tenha sido feito no complexo do alemão no Rio de Janeiro, pois em qualquer lugar que a laje esteja sua representação é a mesma.
Depois rola o mocotó revela desde o inicio do dia os preparativos para se cumprir o ritual de encher a laje, as dificuldades para subir nas costas o material que será usado para fazer o concreto, o pouco espaço para mexer a massa, e os preparativos para o esperado Mocotó que fica por conta das mulheres enquanto os homens deixam a laje pronta.

Diferente do que se possa esperar de um documentário que adentra os morros cariocas, “Depois rola o mocotó” toca na questão do trafico de drogas muito sutilmente para não perder o foco, apenas revelando o uso da laje como ponto privilegiado de observação dos olheiros, sem que com isso crie uma visão estereotipada da periferia.

A trilha sonora que foi assinada pelo coletivo Digitaldubs, é um ponto forte do documentário, a música está inteiramente ligada ao filme gerando empolgação e expectativa no decorrer das imagens, é uma trilha sonora que “fala”, uma trilha sonora que parece pertencer as imagens.
Lançando mão do documentário observacional, não há entrevistas posadas ao estilo clássico, apenas depoimentos das personagens que surgem no decorrer das imagens sem que falem diretamente para a câmera, mas que dão conta de explicar o filme pela riqueza de imagens e pela montagem proposta.


Assim “Depois rola o mocotó” é um documentário que revela a dialética da periferia a partir da laje, revelando o cotidiano e as diferentes formas de socialização das comunidades periféricas que sofrem mudanças geográficas a cada final de semana com a construção de uma nova casa ou o enchimento de uma nova laje.

Ficha Técnica
Duração: 52 minutos
Autora: Débora Herszenhut
Diretores: Débora Herszenhut e Jefferson Oliveira (Dom)
Co-produção: Débora Herszenhut | Urca Filmes | Empresa Brasil de Comunicação – TV Brasil | ABEPEC - Associação Brasileira de Emissoras Públicas, Educativas e Culturais

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