terça-feira, 4 de agosto de 2009

DOCTV IV - Morro do céu


Por: João Daniel Donadeli


No alto de uma montanha da Serra Gaúcha, demora-se o vilarejo Morro do Céu, uma comunidade de descendentes de italianos que foi palco para o documentário homônimo.

Morro do Céu, dirigido por Gustavo Spolidoro (de Ainda Orangotangos), contempla o universo jovem, com suas vivências, conflitos e descobertas.

Parte da proposta de observação direta do cotidiano do jovem Bruno Storti, personagem que conduz a narrativa, sem recorrer a entrevistas “posadas”, aproximando-se do que se denomina cinema direto, mas com uma particularidade ímpar.

A proximidade com Bruno resulta na revelação das inseguranças do rapaz, como o primeiro amor e o sufoco para fechar as notas do colégio no final do ano, e também na celebração da amizade e da camaradagem do rapaz e seus amigos.

O documentário se assemelha, assim, ao filme Conta Comigo, dirigido por Rob Reiner em 1986, em que um grupo de amigos de pequeno vilarejo vive os dias de verão buscando aventura nos trilhos do trem, se autodescobrindo e antecipando uma nova fase de suas vidas.

Para o espectador, o jovem Bruno serve como condicionante para o mergulho em nossas próprias experiências, em nossas memórias de adolescência, numa nostalgia encantadora. Revivemos, com Bruno, essa fase mágica e efêmera de nossas vidas, sonhando com que o boletim fosse outra vez o maior problema de nosso mundo.

A vida de um adolescente num vilarejo rural, com uma repressão social própria, em que todos são observados por todos, se descortina não só na timidez aparente, mas também na ingenuidade do jovem em sua autodescoberta e na intenção de desbravar novos caminhos, de países longínquos, como o próprio Bruno revela numa conversa com os pais.

A maneira encontrada para levar ao cinema essa proposta experimental, descompromissada com rótulos de gênero, é reveladora de uma realidade que só se obtém pela cumplicidade de todos.

Gustavo Spolidoro, o diretor, trabalhou sozinho, captando aquilo que decorria diante das lentes, numa ousadia que talvez não funcionasse com uma equipe. A opção pela intimidade inclusive técnica, sem a parafernália tipicamente cinematográfica, de tripés, refletores, gruas, trilhos etc., colocou todos em posição de igualdade.

Por isso a câmera “sumiu” e a realidade despontou.

Morro do Céu (Brasil, 52 min.)
Autor e diretor: Gustavo Spolidoro


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