quinta-feira, 27 de agosto de 2009

DOCTV: O Sol Sangra


Por: João Daniel Donadeli
A Estrada de ferro Carajás, que interliga as cidades de Parauapeba-PA a São Luís-MA é sem dúvida um agente causador de reminiscências. Homens que vão em busca de sonhos e Homens que voltam para matar a saudade, um conglomerado de sentimentos que transcendem o plano real e trafegam entre o espaço e o tempo, pelo sim e pelo não.
Toda a ansiedade e nervosismo que antecedem uma viagem se dissolve à medida que partimos e não mais somos detentores do tempo, dali pra frente estamos sujeitos a outra temporalidade a outra maneira de perceber o tempo o que nos faz regressar e consultar nossas memórias, mas também visitar a louca da casa e nos deixar levar pela imaginação. Imaginação que nos conduzem a nossa subjetividade na construção de um universo imagético e atemporal.
Essa é a proposta do documentário “O sol Sangra” de Val Barros, que busca por meio da metáfora do trem mostrar as subjetividades e memórias não só daqueles que trafegam na Estrada de ferro Carajás como suas próprias memórias.
O sol sangra é construído com imagens do trem em movimento sempre do ponto de vista de quem viaja, ou seja, a paisagem em movimento. Essas imagens são alternadas com imagens encenadas por pessoas simples e com muita naturalidade sugerindo suas próprias memórias.
Com toda a sutileza e ponderação Val, também é um personagem de seu próprio filme apresentando suas memórias e refletindo sua imagem nas passagens do trem, uma das cenas mais lindas do filme é a do garoto que observa seu pai partir à cavalo e voltar para buscá-lo, lembrança de infância da diretora.
Planos com movimentos lentos e detalhados dirigem o olhar do espectador e geram expectativas conduzindo a narrativa de maneira ativa fazendo com que os cinqüenta e dois minutos do filme pareçam quinze.
O mais surpreendente nesse filme são as fotos que choram, fotos que revelam Val, e seus irmãos diante de um pequenino caixão com o irmão falecido, essas cenas são de uma genialidade que somente uma mulher com toda a sua sensibilidade estética poderia nos proporcionar, a continuidade desse plano são crianças no trem além de uma mãe alimentando seu filho como se aquela imagem fúnebre e triste desse lugar a um renascimento com a mãe amamentando uma nova vida.
O sol sangra é um documentário silencioso e contemplativo onde os únicos ruídos que se ouve são aqueles que pertencem a própria cena sem trilha sonora ou depoimentos em of, mas no entanto é um filme que fala muito e que encanta por sua bela fotografia e encenações, um conjunto harmônico que faz aflorar toda a competência da diretora que estreia com chave de ouro.
Ficha Técnica
Duração: 52 minutos
Autora e Diretora: Val Barros
Co-produção: Valdenira Barros Zen Comunicação Empresa Brasil de Comunicação – TV Brasil ABEPEC - Associação Brasileira de Emissoras Públicas, Educativas e Culturais

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