segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Festival de Gramado - La Teta Asustada


Por: João Daniel Donadeli

Uma campanha terrorista imposta pelo governo peruano na zona rural ao longo dos anos oitenta para conter grupos de oposição ao governo, rechaçou os insurgentes e conseguiu suprimi-los em grande parte antes do fim dos anos noventa, mas essa luta foi ofuscada por atrocidades cometidas pela força de segurança peruana aos povoados indigenas nos Barrios Contraltos e La Cantuta onde mulheres foram estupradas, casas saqueadas e homens mortos em frente a suas famílias.

Esses exemplos chegaram a ser vistos como símbolos das violações de direitos humanos.
La teta assustada é uma “doença” de crença indígena que diz que a criança que nasce fruto de um estupro é contaminada pela mãe com seu leite e a criança está sujeita a viver sem alma e é a partir desse mito popular indígena que Claudia Llosa constrói a sua metáfora para subverter a ideologia de um povo reprimido que só pode se expressar através de seus mitos medos e traumas.

O filme narra a saga de uma garota portadora da “doença” que luta para enterrar a mãe em seu povoado, mas é impedida por forças contrarias.
Fausta ( Magaly Solider, de “Madeinusa”) é uma garota recatada e amedrontada que vive em uma favela da periferia de Lima, fruto de uma dessas atrocidades, teve a mãe estuprada e o pai morto pela campanha terrorista e agora após a morte da mãe, busca uma maneira de leva - lá de volta ao povoado onde nasceu para ser enterrada.

Para isso Fausta arranja um novo trabalho na casa de uma pianista famosa além de trabalhar com o tio em cerimoniais de casamentos enquanto sua mãe se deteriora enrolada em tecidos após um ritual para conservação do corpo.
Uma tradição indígena andina diz que para romper nossos medos devemos cantar e é assim que Fausta resolve seus medos cantando e um dia uma dessas canções de lamento encanta a patroa e um pacto é feito entre as duas, porém por orgulho a patroa rompe o pacto e deixa a garota na mão.

Envoltos em cerimoniais de casamentos e com o casamento da prima nos próximos dias a mãe que já está a dias morta, precisa ser enterrada, mas a cova feita no fundo do quintal já se transformou em piscina para as crianças.

Um impasse não deixa que as coisas aconteçam, é como querer gritar e ser calado pela própria voz, é essa metáfora de se viver em uma país amedrontado e traumatizado sem ter voz para falar e ser ouvido, é um corpo feminino que expressa esse vazio que precisa ser preenchido, é uma angustia que precisa ser acalmada é o pavor de encontrar com algo diferente e perder o controle.

Premiado com o Urso de ouro em Berlim (2009) La Teta asustada é um filme simples com uma estética extremamente realística com belíssimas atuações e com um tema que reflete não só a vida em um pais reprimido, mas a história de maus tratos e resistência da América - latina.

Ficha técnica:
LaTeta Asustada- Peru-espanha, 2009-95min
Diretor: Claudia Llosa
Roteiro: Claudia Llosa
Elenco: Magaly Solider

Perfil do diretor:

Claudia Llosa, peruana, 32 anos cineasta dirigiu “Madeinusa”(2006) que recebeu o prêmio de melhor filme pela Federação internacional de Crítica Cinematográfica, prêmio que novamente recebe com “La Teta Assustada” além do urso de Ouro no Festival de Berlim. Forte candidata para levar o kikito de Ouro em Gramado.

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